POR PAULO HENRIQUESPaulo Henriques, “O Homem de Hoje – João Miguel dos Santos Simões”, João Miguel dos Santos Simões 1907 – 1972, Lisboa, Ministério da Cultura / Instituto Português de Museus / Museu Nacional do Azulejo, 2007, pp.13-22.
O HOMEM DE HOJE
Ao celebrar-se o centenário do nascimento de João Miguel dos Santos Simões, a 17 de Julho de 2007, é impossível não reconhecer a modernidade do seu pensamento e acção, permitindo afirmar que estamos, sem risco de encómio por furor celebrativo, perante um homem de hoje.
A leitura da sua notícia biográfica informa-nos sobre um rapaz de 11 anos que manifestava «invulgar vontade de aprender» quando começou a participar nas excursões da Associação dos Arqueólogos Portugueses, sediada no Museu Arqueológico do Carmo onde o pai, José Rodrigues Simões, «industrial, doublé de notável bibliófilo»Curriculum Vitae de João Miguel dos Santos Simões, exemplar policopiada, sem data. Museu Nacional do Azulejo (MNAz), Espólio João Miguel dos Santos Simões (EJMSS). tinha funções de tesoureiro, frequentando com 15 anos o curso nocturno de Desenho da Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa; descobrindo o Cinema, ao mesmo tempo que o resto do mundo, de modo apaixonado e erudito, aos 18 anos, enquanto frequentava a Faculdade de Direito de Lisboa que abandonou, optando pela vida prática, como empregado na companhia de Pesca de Cetáceos em Setúbal.
Para se ocupar da gerência da Fábrica de Fiação de Tomar, propriedade do pai, frequentou, em 1926, o College of Technology em Manchester, e concluiu o curso de Engenharia Têxtil na École de Filature et Tissage de Mulhouse, França, em 1929, realizando estágios de especialização nas tecnologias de tecelagem e tinturaria na Alemanha, Checoslováquia e Reino Unido, viajando em períodos de férias pela Suíça, Áustria, Hungria, Bélgica, Holanda e Itália.
Regressado a Portugal em 1931, casou com Fernanda Neves e fixou residência em Tomar onde foi gerente técnico da Fábrica de Fiação e desenvolveu importante actividade cívica e cultural, como director do Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto, superintendente do Convento de Cristo, a partir de 1943, e impulsionador a partir de 1950, após estudar as suas raízes etnográficas, da Festa dos Tabuleiros, acontecimento hoje fundamental nos rituais da cidade. Só em 1956, após a morte do pai, é que deixou a posição na Fábrica de Fiação e se mudou para Lisboa.

É bem eloquente o percurso traçado durante os anos de formação e passagem à idade adulta, num período entre 1918 e 1931, caracterizado pela euforia do pós-guerra e na crença inabalável nos valores de modernidade material e no mito do progresso, resultantes da industrialização massifica e de novos modelos de existência.
A própria actividade profissional que lhe coube desenvolver a partir de então, a gestão de uma unidade fabril, mergulha-o inteiramente nesse paradigma mas num território que não deixa de ter presente um outro valor, o da estética, resultante dos próprios produtos, tanto mais qualificados quanto mais insinuantes fossem os padrões dos tecidos, factor que, embora real, não terá sido determinante para a sua apetência pelos assuntos de História e Arte.
A propósito escreveu Santos Simões de si: